Recentes

CARROS

ANTT investigará suspensão de obra da Ferrovia Oeste-Leste na Bahia

Sindicato informou que 300 trabalhadores devem ser demitidos, mas empresa fala em 350 'afetados'. Obra foi a primeira anunciada pelo Novo PAC e deveria servir para escoamento de minério de ferro e grãos.


Por João Souza e Izabella Freitas | g1 BA e TV Santa Cruz

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) vai investigar um possível descumprimento contratual na suspensão da obra da primeira etapa da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre as cidades de Caetité e Ilhéus, na Bahia. [Veja nota completa ao final da reportagem]

Trecho 1 da Ferrovia Oeste-Leste — Foto: BAMIN

A suspensão da obra foi divulgada na terça-feira (1º) pela BAMIN, responsável pela construção. Segundo a companhia, o contrato com a construtora Prumo Engenharia foi "desmobilizado" na segunda (31), após um investimento de R$ 784 milhões.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav), cerca de 300 funcionários serão demitidos com a medida. A notícia foi revelada para os trabalhadores na segunda-feira.

O trecho 1 da Fiol foi a primeira obra anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em julho de 2023, e deveria servir para escoamento de minério de ferro e grãos.

O projeto previa 537 quilômetros de extensão, passando por 19 municípios baianos.

Na época, a BAMIN previu concluir essa etapa até 2027, mas Lula pediu celeridade nos trabalhos para que a entrega acontecesse em 2026, ano eleitoral.

Demissões com a suspensão

Nesta quarta-feira (2), uma assembleia geral foi realizada na frente do canteiro de obras da cidade de Uruçuca, no sul do estado. Para os trabalhadores, os representantes dos sindicatos contaram que o processo de demissão deve ser concluído até terça-feira (8) e que as saídas devem ser oficializadas de forma gradual. Apenas nessa quarta, cerca de 70 funcionários deverão ser desligados dos cargos.

"A diretoria do sindicato foi pega de surpresa com a informação que a Bamin passou para a Prumos de que era para parar as atividades e demitir todos os trabalhadores. Isso sem uma comunicação prévia", disse o diretor da Sintepav, Alessandro Ribeiro.

Em nota, a Prumo Engenharia disse que o contrato se encerrou no dia 31 de março e que havia a possibilidade de um aditivo, o que não se concretizou por decisão da BAMIN.

A empresa afirmou que os trabalhadores serão dispensados gradativamente nos próximos dias e receberão todos os direitos, conforme prevê a legislação trabalhista.

A BAMIN não detalhou a quantidade de demissões que serão feitas, mas disse que cerca de 350 pessoas que fazem parte da equipe terceirizada contratada durante a fase inicial de construção da ferrovia devem ser afetadas por essa decisão.

Ainda de acordo com a BAMIN, a desmobilização durará aproximadamente 30 dias e o canteiro de Uruçuca permanecerá como apoio às atividades de manutenção do trecho concluído.

As demissões preocupam o apontador Carlos Gomes, que trabalhava com o controle dos equipamentos no canteiro de obras.

"Diante desse quadro, esses pais de família, nossos colegas, estamos com o desemprego, né? A gente tinha perspectiva de muito tempo trabalhando aqui. Esse sonho parece que não está sendo realizado", disse.

O carpinteiro Marcelo Fontana também foi pego de surpresa com o fim das atividades no canteiro.

"A gente tinha a perspectiva de passar mais um tempo, né? Trabalhando. E recebemos essa notícia, algo inesperado".

Busca por investidores

Ainda conforme a BAMIN, o Grupo ERG, responsável pela companhia, "permanece em busca de investidores que possam apoiar a implantação desta ação".

A BAMIN explicou que a empresa e o Projeto Integrado (Mina, Ferrovia e Porto) estão em processo de venda por parte da controladora, a Eurasian Resources Group (ERG), e essa "busca por investidores" refere-se, na verdade, à venda da empresa.

A Fiol

O projeto da Fiol contra com três trechos, que vão totalizar 1.527 km de extensão, ligando o futuro Porto de Ilhéus à cidade tocantinense de Figueirópolis, com conexão à Ferrovia Norte-Sul.

A ferrovia será um importante ponto para o escoamento de milhares de toneladas de minério produzidos no sul da Bahia e dos grãos da região oeste. A estimativa é de que, quando estiver em operação, a emissão de gases do efeito estufa seja reduzida em 86%.

Os benefícios esperados incluem também a redução dos custos de transporte de grãos, álcool e minérios destinados aos mercados internos e externos, e o aumento da produção agroindustrial da região, motivada por melhores condições de acesso aos mercados nacional e internacional.

Atualmente, a Fiol 2 está em construção, sob responsabilidade da empresa Infra S.A. Já a Fiol 3 está em fase de estudos. Na Bahia, depois de executado, o projeto deve beneficiar diretamente 31 municípios. São eles:
  • Ilhéus;
  • Uruçuca;
  • Aurelino Leal;
  • Ubaitaba;
  • Gongogi;
  • Itagibá;
  • Aiquara;
  • Itagi;
  • Jequié;
  • Manoel Vitorino;
  • Barra da Estiva;
  • Mirante;
  • Tanhaçu;
  • Aracatu;
  • Brumado;
  • Livramento do Brumado;
  • Lagoa Real;
  • Rio do Antônio;
  • Ibiassucê;
  • Caetité;
  • Guanambi;
  • Palmas de Monte Alto;
  • Riacho de Santana;
  • Bom Jesus da Lapa;
  • Serra do Ramalho;
  • São Félix do Coribe;
  • Jaborandi;
  • Santa Maria da Vitória;
  • Correntina;
  • São Desidério;
  • Barreiras.

Em nota, a Infra S.A., responsável pela construção do trecho de 485 km da FIOL 2, entre as cidades de Caetité e Barreiras, informou que a obra se encontra com 69,9% de execução, com previsão de chegar em 100% de execução em 2027.

Segundo a empresa, em paralelo à construção da FIOL 2, ela faz os estudos para a concessão do corredor FICO x FIOL, que envolverá a construção do trecho da FIOL 3 pela futura concessionária. O trecho da FIOL 1 já foi concedido e está em execução pela BAMIN.

Leia abaixo a íntegra da nota da ANTT:

"A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) acompanha de perto a evolução da execução físico-financeira do projeto, bem como o cumprimento das obrigações contratuais. Em fevereiro deste ano, a Agência notificou a concessionária sobre o desempenho abaixo do esperado no andamento das obras. A Agência informa que abrirá procedimento preliminar para apurar possível descumprimento contratual.

De acordo com o último acompanhamento do plano de investimentos realizado pela ANTT, a Bamin concluiu a obra correspondente à Passagem Inferior na BA-262, localizada no km 1483+46,referente ao Lote 01F.

Quanto à “necessidade de investidores”, entende-se que essa é uma informação de natureza estratégica da empresa controladora e, portanto, restrita ao seu planejamento corporativo".

Postar um comentário

0 Comentários