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Brasil ainda não tem meta nacional para produção de carros elétricos

Estudo do ICCT mostra que países vizinhos já definiram metas ambiciosas de eletrificação veicular


Por Julio Cesar | InsideEvs

Apesar do crescimento na venda de carros elétricos no país, o Brasil segue sem uma meta oficial de eletrificação da frota. Enquanto isso, diversos países da América Latina já estabeleceram planos com prazos definidos para substituir veículos a combustão por modelos de emissão zero. A comparação está no estudo “A transição da indústria brasileira para veículos elétricos e seus efeitos em emprego e renda”, publicado pelo ICCT (Conselho Internacional de Transporte Limpo) em junho de 2025.

Foto de: BYD

Segundo o relatório, o Brasil é uma exceção entre os grandes mercados da região ao não apresentar metas formais para eletrificação veicular. A ausência de compromissos claros contrasta com o avanço observado em países vizinhos, como Chile, Colômbia, México, Costa Rica e Equador, que já definiram prazos e percentuais para eletrificar suas frotas.

No Chile, por exemplo, as metas estabelecem que 100% das vendas de carros e ônibus urbanos sejam de veículos de emissão zero até 2035. A Colômbia projeta atingir 600 mil carros elétricos em circulação até 2030, com a exigência de que todos os novos ônibus urbanos sejam elétricos a partir de 2035. No México, o governo anunciou que metade dos veículos produzidos no país deverá ser de emissão zero até 2030.

Na Costa Rica, a meta é ainda mais ambiciosa: tornar todas as vendas de veículos leves exclusivamente de emissão zero até 2050. O Equador, por sua vez, prevê que até 2040 os veículos de emissão zero representem 60% a 70% das vendas de ônibus urbanos, 30% a 40% dos caminhões e 20% a 25% dos veículos leves.

O relatório do ICCT aponta que, além da ausência de metas, o Brasil também sofre com baixa participação de elétricos nas vendas totais. Em 2023, os veículos 100% elétricos representaram 0,9% das vendas, somando 2,6% com os híbridos plug-in. No primeiro semestre de 2024, a participação dos VEs chegou a 3%, totalizando cerca de 31 mil unidades, número ainda pequeno frente ao total do mercado nacional.

Embora o programa MOVER (Mobilidade Verde e Inovação), sancionado em 2024, represente um avanço no estímulo à produção nacional de veículos menos poluentes, ele ainda não impõe metas claras para a eletrificação. Segundo o ICCT, a ausência de diretrizes mais ambiciosas pode atrasar o desenvolvimento da indústria local e comprometer a competitividade internacional do Brasil, especialmente em exportações para mercados que já exigem veículos de emissão zero.

A comparação com os países vizinhos sugere que o Brasil pode perder protagonismo regional na mobilidade elétrica se continuar sem metas claras. Ao mesmo tempo, o estudo identifica oportunidades para reverter esse cenário: a crescente demanda por veículos elétricos na América Latina, somada à presença de lítio e outros insumos estratégicos na região, pode posicionar o Brasil como fornecedor competitivo — desde que haja planejamento industrial e metas de longo prazo.

Para os autores do estudo, estabelecer metas nacionais de eletrificação, alinhadas com objetivos climáticos e industriais, seria um passo essencial para acelerar investimentos, garantir geração de empregos qualificados e estimular a produção local de componentes estratégicos, como baterias. Isso permitiria ao Brasil aproveitar a transição energética como uma oportunidade econômica, e não como um risco comercial.

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